quinta-feira, julho 18, 2013

Je ne vais pas à la maison


O Espírito da Colmeia (1973), Victor Erice.

Ao contrário do filme do Manoel de Oliveira, "não vou para casa". Se a Faculdade de Direito, no sentido mais nobre - o grego - de academia, foi e continua a ser uma casa para mim, tal se deve, numa parte muito generosa, ao Cineclube, ao qual me juntei em 2008, um ano, mais coisa menos coisa, depois da sua fundação. O primeiro filme que vi foi o Rumble Fish, que, juntamente com o Buñuel, o Chabrol, o Aranoa e o Bogdanovich (sem contar com o Antonioni, mas esse já era então um caso à parte), são os que recordo com mais gosto. Pelo meio, aprendi. Muito. Sobre Cinema, mas não só.

Mais do que tudo, aprendi que o Cinema será sempre, irredutivelmente, um amor pessoal; por essa razão é que eu e aqueles que dirigiram e dirigem este Cineclube (o mais antigo e, perdoem-me a imodéstia, o melhor, a léguas de distância, de qualquer outro no panorama universitário do Porto) nunca viram numa sessão menos concorrida - e foram várias, não tenho receio em dizê-lo - um "fracasso": at the end of the day, estamos ali nós, directores, pacificados e com os sinais alerta, a absorver tudo do ecrã (da tela, na verdade!). No final, ainda às escuras, ficamos mais um pouco a ver os créditos ao som da música (ou no silêncio, até). Depois, lentamente, acendemos as luzes, desligamos o filme, alguém o guarda (já a pensar em disponibilizá-lo na DVDteca da Biblioteca!), vamos saindo às pingas e deixamos as almofadas nos seguranças. Cá fora, trocamos impressões. Só depois, então, é que vamos para casa.
Como haverá sempre o Cineclube FDUP, como haverá sempre uma sessão (the last picture show é coisa que fica do lado de lá da tela), poderei sempre ir ver um filme. Quando acabar o filme, "vou para casa" apenas na exacta medida em que sei que poderei, novamente, voltar à sala 1.28 (não!, à sala 1.01, maldita chiadeira que fazem aquelas cadeiras...) e sentar-me no escuro e no silêncio, refugiando-me, por momentos, da vida lá de fora. Refugiando-me na vida dos outros, sempre mais bela (ou dramaticamente mais bela) nos filmes.

A todos aqueles que continuam com este projecto (inexoravelmente in progress), os meus sinceros votos de muito sucesso. A todos aqueles que o criaram, o fizeram gatinhar e, depois, andar como gente grande, o meu obrigado. A"solo", estarei por aqui e, concretamente sobre cinema, ali.

Francisco Noronha

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